domingo, 16 de janeiro de 2011

Não lamente-se


Mãos calejadas de trabalho arduo, sentado no banco do parque a alimentar os passaros, voltando ao tempo, entrando hora numa, hora noutra as inumeras salas que dividiam sua vida, perguntando-se o que mais havia de se fazer para que a tal lhe bastasse, há muito tempo não sabia como usar o velho sorriso enferrugado, mente em fuga, esquecera do que se tratava a felicidade, pior ainda, nunca soubera afinal e como viveras até hoje da mais bruta tristesa e solidão, tentara desesperadamente lapidar em molduras a vida doce que nunca pudera alcançar. Passara aquela tarde inteira em lamentações por não receber um unico olhar de amor.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

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Sozinha em meio a relva, respiração ofegante, tão ofegante que mal podia ouvir qualquer outro barulho que estivesse ali, mas eu ainda tinha muito de mim naqueles passos, e por mais cansada que eu parecesse estar ainda havia muito pra correr e sem pensar desparava levantando as folhas correndo pro tão próximo fim do mundo. Só me lembrava daquele sorriso quando enfim as pernas não obedeciam mais e me debruçava sobre o tronco das arvores derrubadas, lembrava sim do sorriso, era a unica coisa que eu não esperava, pois bem, fui pega de surpresa. Então era somente isso? um sorriso? era a punição por tantos anos de puro veneno que em mim corria. Mas acredite ou não, o sorriso que me era dado foi a maior punição, punindo alguém que se alimentava de mãos tremulas. O sorriso não era meu, eu nunca mareci tanto, pra não dizer que eu nunca mereci foi absolutamente nada, mas ganhar o sorriso era tão ruim quanto oferecer um.
Sorrir me estimulava a vida não tão errada com a qual eu sonhei, viver errado era a unica saida pra que eu fugisse de mim, fugir de mim sempre foi o que desejei, não sabia lidar com nada, com nada, nem mesmo com um sorriso. Tinha tanta inocencia por traz de tanto veneno. A idade se tornara a explicação pros meus piores defeitos, esperava crescer, crescer errada, pra quem sabe deixar de fugir de mim, mas o sorriso me achou e me pois de frente com a unica coisa que eu não esperava, a bondade que eu nem sonhava existir, talvez despertara agora em mim.

@hildabastos

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

boneca de pano


De pano se fez a boneca que deu nome aquela alma quando tudo se foi daqui
de pano era aquele pé cansado que por muita das estradas dessa vida percorreu
observando só a dor e o amor de cada semelhante que por ali mesmo a mão lhe estendeu.
E sobre os olhos densos, de aparencia oriental que por um instante parecia ver o outro lado, um velho botão, tão velho quanto o pano puído do tempo o mesmo tempo que lhe ensinou sobre botão.. Botão era seguro por uma linha clara e fina, linha na qual tinha poder de por a boneca em apuros, a cada puida que a linha dava, menos eram as chances da desgastada boneca sobreviver, e quem queria que a tal sobrevivesse? boneca, boneca, escondia tanto da vida, que nem o pano e a linha deu conta de segurar, e os botões de tanto observar cairam perdendo pra sempre a fotografia de toda aquela vida, mas uma coisa era certa: NINGUEM foi mais feliz que a boneca.