quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Olhos de ressaca

Olhava o mundo com olhos de ressaca de um fluido misterioso e energico que vinha sem nada e lavava consigo tudo, assim, como o mar em dia de ressaca. Ele evitava fita-la e mesmo de relance, quando não resistia e levantava os olhos, via ondas cavas e escuras afim de envolve-lo, engoli-lo, traga-lo.

Mas como poderia viver sem aqueles olhos? Como alguém que não pertence a costa litoranea e ama o mar. Ele amava o mar e as ondas e amava os olhos de ressaca. E ela que tinha os olhos que o diabo lhe deu, como os de cigana, obliquios e dissimulados puxava-o para sí, que se agarrava em seus braços, seus cabelos, mas que por estes se entregava sem relutancia alguma.

De súbito escrevia-lhe, falava-lhe. Talvez a narração desse-lhe a ilusão, e as sombras viessem perpassar ligeiras, como ao poeta, não o do papel, mas o do mar, não o são, mas o de ressaca.

“O mar amanha está de desafiar a gente.”

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