domingo, 26 de setembro de 2010

De duas as quatro

Sozinha, nas tardes de melancolia, deixava-se abraçar pelas recordações, aos poucos afastando-se daquela sala, para percorrer os corredores do passado, entrando ora numa, ora noutra das inúmeras portas que nelas se abriam.
Detinha-se a pensar nos bailes, reconstruindo os bordados de um vestido, as volutas de uma dança. Depois para um certo passeio de barco sobre o lago, e aquelas tardes de risos nas quermesses.
Entre tantas, a lembrança de que mais gostava era a das matinês do cinema São Luiz. Revia-se de vestido limpo ainda cheirando a ferro de engomar, os cabelos úmidos de banho, cochichando com as colegas, indo longamente ao banheiro, e sonhando, como todas, com os gêmeos de laranjeiras.
Eram identicamente lindos os dois irmãos que chegavam sempre sozinhos para a sessão, louros e lisos como príncipes, subindo as escadarias sob os olhares cobiçosos das moças. Nunca mais os vira depois, nem soubera o que deles havia sido feito.
Mas na penumbra das tardes ainda estremecia com o pensamento, e suspirando se perguntava qual dos dois a teria feito mais feliz, se apenas o amor tivesse sido possível.

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