quarta-feira, 1 de junho de 2011

Largueza ampla de não-entender

Apavorava-se só de pensar em uma possivel intimidade com a alma de um homem. Recuava todas as vezes. Tinha receio de ir, como se pudesse ir longe demais, longe onde não se deveria ir. E de volta em meia, até se perguntava, do que estaria se polpando? Mas não era questão de polpar-se, e sim um certo medo da sua própria capacidade, talvez por não saber de seus limites. Não sentia-se pronta p'ra ter uma ligação de mulher com o que representava união.
Ela era o mundo, e no entanto, vivia o pouco. O que lhe gerava humildade. Aliás, sentir-se humilde demais, era de onde vinha sua altivez de pessoa.
O que a salvava era a crença no seu mundo particular, onde era-se apenas uma mancha de instintos, doçura e verocidade. Como se fosse humana, só que de uma forma permanente, mas que as vezes pudesse ouvir o silencio da alma confusa.
Sentia-se bem por não entender-se, pois não entender-se era tão grande que ultrapassava o próprio entender. Entender-se era o limite, mas não-entender-se não tinha fronteiras e a levava ao infinito. Era uma benção estranha como a de ter loucura sem ser louco. Compreender era sempre um erro, preferia ter a largueza tão ampla, livre e sem erros de não-entender, mesmo que de vez enquando sentia-se insuportavelmente inquieta, porque gostaria de saber o bastante para pelo menos ter conciencia daquilo que ela não entendia. Embora no fundo não quizesse sair da codição humana de não entender.
No entanto, as vezes adivinhava. Eram as suposições e o desinteresse manso que substituiam o seu entender.

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